Os investigadores
suspeitam que o dinheiro foi usado para pagar propina a políticos no esquema de
corrupção no FI-FGTS
Por: Daniel Pereira / VEJA
Carro da
Polícia Federal no Rio de Janeiro(Sergio
Moraes/Reuters)
Delatado pelo ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto,
o esquema de corrupção no FI-FGTS usou os serviços da mesma consultoria
empregada pela Engevix para pagar propina ao almirante Othon Luiz Pinheiro da
Silva, ex-presidente da Eletronuclear, preso pela Polícia Federal, na semana passada,
na Operação Pripyat, um desdobramento da Lava-Jato.
Em 2013, o FI-FGTS aprovou um aporte de 400 milhões de reais na Brado,
uma gigante do setor de logística. Segundo Fábio Cleto, a transação rendeu
propina a ele e a seu padrinho político, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
que renunciou à presidência da Câmara. Cleto, o operador, diz que recebeu
80.000 reais, mas não especificou quanto Cunha, seu chefe, embolsou.
VEJA colheu indícios de que a propina pode ser sido bem maior do que
sugere o valor citado pelo delator. Durante a tramitação do processo no
FI-FGTS, a Brado contratou duas empresas para acompanhar o caso. Juntas, elas
receberam 9,4 milhões de reais e, conforme informação prestada pela atual
direção da Brado à cúpula da Caixa, nenhuma delas prestou um mísero serviço
sequer. Teriam sido contratadas apenas para fazer com que dinheiro passasse do
caixa do corruptor ao bolso do corrompido.
Uma das contratadas foi a Link Participações e Projetos Ltda, que
recebeu 1, 4 milhão de reais. A Link é velha conhecida das autoridades. Em
delação premiada, seu dono, Victor Sergio Colavitti, admitiu que pagou 765.000
reais, a pedido da Engevix, a uma empresa do almirante Othon da Silva. Às
autoridades, declarou que não sabia que os valores se referiam a propina paga
pelas obras de Angra 3, como descobriu a força-tarefa da Lava-Jato. Procurado
por VEJA para comentar o caso Brado, Colavitti não retornou as ligações. Ele é
proprietário de outras empresas. Numa delas, tem como sócio Milton Lyra,
notório operador de propinas em outros esquemas de corrupção.
A outra contratada pela Brado foi a Porte Projetos Terraplanagem e
Construções. Remunerada com 8 milhões de reais, também não quis comentar o
caso. Por meio de nota, a Brado disse que está à disposição das autoridades
para colaborar com as investigações. "Os fatos levantados pela reportagem
são anteriores à mudança de controle e de gestão da companhia, sendo que a nova
gestão está à frente da Brado há apenas 12 meses. Quando a atual gestão assumiu
a empresa, achou por bem instaurar uma auditoria interna para avaliar o
conjunto de contratos da companhia, a qual encontra-se ainda em curso." O
deputado Eduardo Cunha nega que tenha recebido propina.
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